sexta-feira, 12 de março de 2010

Conversa sobre nutrição

Texto e fotos: Nathália Kneipp
Como será desenvolvido o trabalho de educação nutricional que começa com a oficina de hoje?
Essa intervenção que estamos fazendo no MCT faz parte de um dos três projetos de educação nutricional concebidos no UniCeub: Projeto Vida Leve, para a população em geral, especialmente aqueles que pertençam a algum grupo de risco ou com histórico de problemas de saúde. Projeto Sabor a Vida que é voltado para os diabéticos e o Projeto Nutri Jovem, focado em pessoas dessa faixa etária. No MCT, o Projeto iniciado é o Vida Leve. Esse Projeto engloba um ciclo de oficinas que ocorre com uma dinâmica de grupo para que a educação nutricional ocorra de forma interativa, por meio de jogos cooperativos e atividades lúdicas. A participação em uma comunidade que busca reeducação alimentar é mais vantajosa que a interação individual em um consultório. Aprender sozinho é completamente diferente de aprender juntos em um contexto social. A atividade de hoje é para fazer uma triagem nutricional e identificar o perfil do grupo da Secis. Explicaremos quais foram os parâmetros avaliados e faremos uma breve orientação sobre alimentação saudável. Para as próximas etapas, as pessoas devem se inscrever nas oficinas que acontecerão no UniCeub, localizado no Edifício União, SCS, em frente ao Hospital de Base. É nesse local que funcina o Laboratório de Culinária Experimental. A próxima oficina está programada para o dia 25 de março às 9h. com a disponibilidade de 20 vagas.
Ouve-se com frequência a queixa de que a alimentação saudável significa relegar o paladar, as comidinhas saborosas, ao segundo plano. Você considera que esse seja o maior empecilho à reeducação alimentar?
É exatamente essa percepção que nós queremos mudar com as oficinas. A culinária experimental existe para isso. Além da pessoa aprender os conceitos, o que faz bem à saúde, quais são as melhores escolhas, ela também poderá provar, degustar, e descobrir que o processo de preparo do alimento pode ser muito prazeroso, bem como os pratos que são feitos primam por um sabor que agrade. Há algumas boas surpresas quando alguém descobre que uma saladinha de tomate, na medida em que é cortada corretamente e bem temperada , proporciona um sabor até então desconhecido. É na culinária experimental que a gente quebra esse tabu.

Existem trabalhos na área de Hematologia que relacionam a tipagem sanguínea com a necessidade de escolhas diferenciadas de alimentos, levando-se em consideração cada indivíduo e o seu tipo sanguíneo. Você trabalha com essa abordagem?
Não seguimos essa abordagem, preferimos o que está estabelecido nos Dez Passos para uma Alimentação Saudável, pelo Ministério da Saúde, é um conjunto de escolhas que fazem bem para qualquer pessoa, independente do tipo sanguíneo. Em vez de observarmos isso, preferimos considerar as diferenças culturais, por exemplo, a história e hábitos da pessoa. A alimentação saudável é muito básica e simples, não são necessários artifícios.

Muito se esperava da engenharia de alimentos como ferramenta de aprimoramento da nutrição humana, você considera que essa área correspondeu às expectativas nas últimas décadas? O mesmo pode ser questionado em relação à biotecnologia.

A engenharia de alimentos pode avançar mais, ao levar em consideração as questões relacionadas à ecologia, à sustentabilidade. A alimentação tem que voltar a ser sustentável, pois com a produção de alimentos em massa, com sua distribuição mais acessível em supermercados, houve uma perda de qualidade dos alimentos. Conservantes, corantes, embalagens e transporte são elementos que se encontram entre a produção do alimento in natura e seu consumo em nossas mesas. Por isso, estamos voltando a ter comportamentos de consumo diferenciados, em que se privilegia o agricultor local, aquele que produz sem agrotóxico. Busca-se consumir os alimentos in natura e não o alimento conservado. Por isso, penso que a engenharia de alimentos esteja passando por uma “virada de página”, em que esse novo pensar e novas atitudes se encontram presentes. Nos últimos 20 anos, ela trabalhou pela industrialização e fácil acesso aos alimentos, o que não é condenável, pois na escala em que se dá o comércio de alimentos, se não fosse assim, estaríamos passando fome. Já a biotecnologia permite aprimorar o estudo da produção de alimentos que podem ser enriquecidos com nutrientes, sem nada artificial, simplesmente por meio da administração genômica da planta. A Embrapa tem um papel importante pois atua nessa administração genômica e regionalização da produção, respeitando a vocação geoclimática e a cultura de cada região.

Quais são os projetos ou iniciativas relacionadas à segurança alimentar que você apontaria como exemplares no Brasil?

A Política Nacional de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde; a Associação Brasileira do Direito Humano – Alimentação Saudável; o Projeto de Emenda Constitucional (PEC 047/2003) que inclui o Direito Humano à Alimentação entre os direitos sociais da Constituição Federal; a ação dos Núcleos de Atenção à Saúde da Família, que contam com a colaboração de nutricionistas; todas iniciativas bem-vindas, entre muitas outras.
A osteoporose é hoje uma verdadeira epidemia. Uma em cada três mulheres e um em cada oito homens acima de 50 anos são portadores da doença, segundo a OMS. Entre as causas, está a “desmineralização dos solos”. Nos fóruns que você frequenta, esse aspecto é discutido? Existe interdisciplinaridade?

Só nas universidades, nos departamentos, na Agricultura Biodinâmica, com ações pontuais, mas não tenho conhecimento disso como política nacional. Sei que, no Centro-Oeste, o solo é deficiente em iodo e existem iniciativas para corrigir isso. No caso da osteoporose é preciso analisar um conjunto de fatores que além da deficiência de minerais no solo que produz os alimentos, há o processo de refino e industrialização das matérias-primas naturais, e uma alimentação pouco diversificada no dia-a-dia, que podem contribuir para a carência desse mineral. E não basta simplesmente tomar cálcio, é preciso analisar todo o contexto. Pode ser preciso tomar magnésio e vitamina D para que haja absorção do cálcio, ou vitamina B12 para que ele seja processado direito. É o contexto geral e não o focal que vai ser determinante no sucesso do tratamento dessa doença.

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